Há, entre muitos povos nativos deste continente, uma ligação particular com os nomes, uma transição que acompanha a transformação do indivíduo, bem como sua identidade social e espiritual de forma ampla, não se limitando a um adereço fixo de incorporação ao sistema familiar ou estatal. Claudine, Claudia, Napëyoma: três esferas que, além de substantivos, recriam a transição, o movimento, de uma das grandes fotógrafas do nosso tempo, exemplificam isso. As alcunhas, profundamente enraizadas em suas vivências, demonstram, nesse fluxo, o caminho ímpar de uma vida humana.

Nascida na Suíça, em 1931, ainda muito nova mudou-se para Oradea, cidade fronteiriça entre Romênia e Hungria. De origem judaica, temendo a perseguição nazista, voltou para a terra natal antes de partir rumo aos Estados Unidos, passando a morar junto ao tio. Em Nova Iorque iniciou os estudos, começou a atuar como artista e casou-se, assumindo o sobrenome do marido, Andujar. Seu reencontro com a mãe deu-se no Brasil, em 1955, onde resolveu ficar. A fotografia, mais que trabalho, foi uma forma de reconhecimento e diálogo com um país que, para ela, emergia desconhecido. Do olhar urbano, cotidiano, mergulhou — influenciada por Darcy Ribeiro — nas matas densas em busca do caule deste chão: os povos originários. O encontro com os Yanomami, inicialmente financiado pela Fundação Guggenheim, entre 1971 e 1977, estendeu-se muito além do previsto; a identificação e paixão fizeram com que esta se tornasse a grande fonte de sua arte, luta e realização estética.

O sotaque carregado não condiz com a alma tropical, latina, brasileira, mas permanece como marca indelével de suas origens e batalhas pessoais — signos dispostos em ricas constelações. Arrastada, as palavras saem lentas, mas a mensagem é sempre transparente, nítida: o respeito às diferenças, a harmonia cultural entre as múltiplas organizações sociais humanas, o conviver pacífico.
Davi Kopenawa, principal figura da luta Yanomami, foi companheiro de Napëyoma — como Claudia é chamada pelo seu povo — em diversas viagens pelo mundo, buscando apoio para a causa indígena. O xamã disse que a alma da fotógrafa pegou a sua no colo; essa simbólica metáfora demonstra não só o afeto, a qualidade maternal com que incorpora suas relações, mas a identificação sutil entre a artista e seus retratados, vínculo profundo, anímico. A afinidade com a psicodelia, explícita em inúmeros trabalhos, canaliza a metafísica de seu olhar transcendente, transitando vigorosamente entre o concreto e o sublime, mesclando o corpo humano à feição misteriosa do mundo. Soma-se a isso o tom crítico, documental, recorrente e primoroso, como em sua reportagem sobre migração ou na série Famílias Brasileiras. Das luzes que se misturam às expressivas e profundas feições de nossa gente, Claudia abriga tudo, nos entregando, como um presente, o reflexo mais íntimo do que somos.














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